João Victor Chaves, de 17 anos, tinha tudo para virar estatística como mais um jovem que teve a vida destruída pelo tráfico. Morador da favela do Cantagalo, na Zona Sul do Rio, teve uma infância problemática, recheada de rebeldia e confusões. Apesar das condições desfavoráveis, no entanto, foi salvo pelo empoderamento e pela própria criatividade, mudando o destino para um futuro promissor.
Tudo começou quando ainda era criança. Em vez das preocupações com brincadeiras comuns da idade, o menino chamava mais a atenção dos pais pelos constantes problemas que atraía: “Tive que amadurecer bem rápido. Via coisas que outros jovens não costumavam ver, então, acabei tendo muita maldade no coração”, conta João.
E nem mesmo a escola fazia efeito para reverter esse quadro. No lugar da educação e das boas notas, o jovem acabou se envolvendo em diversas confusões e foi expulso de um colégio público quando estava no 6º ano do Ensino Médio. Acabou indo para outro, onde a situação foi ainda pior: “Lá eu só batia e apanhava. Fazia tudo, menos estudar. Parecia que estava em um reformatório. Aprendi muitas coisas erradas”, desabafa.
Até que, no momento em que já planejava abandonar os estudos, João Victor encontrou o Solar Meninos de Luz. Parceiro da organização no bairro de Copacabana, mostrou ao jovem um caminho bem diferente daquele que estava acostumado a observar, indo muito além da sala de aula. Entre março e julho de 2020, realizou os cursos “Introdução ao Mundo Digital”, “Hackeando o seu futuro” e “Gestão de Projetos e Aplicativos de Impacto”, todos oferecidos gratuitamente pela Recode e com certificados reconhecidos pela Microsoft.
Mas, o ápice ainda estava por vir. Quando o instituto enfrentava sérios problemas financeiros e corria o risco de fechar, o jovem liderou um projeto para diminuir o valor da conta de energia elétrica, através de materiais recicláveis. A ideia não só deu certo como rendeu a João Victor o reconhecimento pelo trabalho bem feito, sendo convidado até mesmo a dar palestras sobre o tema em universidades particulares.
Quando tudo parecia caminhar bem, outra pedra surgiu no caminho. A pandemia chegou e, com ela, o isolamento social acabou tendo um efeito devastador na saúde mental: “Pensei que não ia conseguir. Tive crise de ansiedade e cheguei a largar a escola. Precisei procurar ajuda psicológica”, relata.
Felizmente, com a ajuda da família e das organizações sociais, esse cenário se transformou novamente. O estudante não só retornou ao colégio como, em outubro de 2020, conseguiu uma oportunidade profissional: entrou para a equipe da Recode como jovem aprendiz.
João Victor ainda tem uma longa jornada pela frente. Sonha, um dia, ingressar na Marinha, além de poder ajudar a comunidade onde vive. Após superar tantas dificuldades e barreiras, no entanto, o adolescente pode seguir com a consciência de que escolher a educação e a tecnologia como armas para uma transformação social foi a escolha perfeita. A fama de problemático ficou para trás. Agora, é ele quem serve de inspiração para outros jovens, que observam um sujeito honesto, inteligente, batalhador e talentoso.
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